Sábado, 22 de Abril de 2006
Mudança Social



Noção de Mudança Social:


  • O sistema cultural não é um sistema fechado, antes vai crescendo e transformando-se com o contributo intelectual e artístico dos homens e mulheres de cada tempo e lugar. Sendo um fenómeno participado, que concretiza a forma de expressão e de realização de um grupo, cada geração irá dar-lhe o seu contributo ao encontrar novas formas e idealizar outros valores, ao inventar outras formas de relacionamento e ao criar novas tecnologias.  

A cultura transmitida a cada geração nunca é a cultura que a geração presente herdou mas a que já produziu.

  • Mudança Social: Toda a transformação observável no tempo, que afecta, de modo não provisório ou efémero, a estrutura ou o funcionamento da organização social de uma dada colectividade e modifica o curso da sua história.

             É a «transformação dos valores, ideais e formas de relacionamento resultantes, nomeadamente, de processos de modernização que questionam o antigo e do relacionamento mais forte entre os povos dos diferentes espaços nacionais, em virtude dos processos progressivos de interdependência a nível mundial».


Características da mudança:

  • É um fenómeno colectivo – afecta e implica um conjunto substancial de indivíduos que verão, assim, alterados o seu modo e condições de vida.

  • Corresponde a uma mudança estrutural e não a uma adaptação funcional das estruturas existentes – torna-se possível observar alterações profundas na forma de organização social passíveis de comparação com as formas anteriores.

  • É identificável no tempo, o que nos permite detectar e descrever as alterações estruturais a partir de um ponto de referência.


A mudança social surge assim como a diferença observável entre dois estados da realidade social.

  • Não é efemero – qualquer evento passageiro, independentemente da sua força de pressão e de desorganização social, não conduz à mudança social, pois os seus efeitos desaparecem progressivamente com a adaptação funcional do sistema cultural existente.

Etapas do processo de mudança:

  • Descristalização do sistema de ideias vigente;

  • Reestruturação de um novo sistema noutras bases;

  • Recristalização do novo sistema de ideias.

  • A evolução social resulta do processo de mudança.




Factores e Agentes de Mudança

  • Não é possível encontrar uma causa ou agente único que se possa considerar exclusivamente responsável ou determinante pelos acontecimentos sociais.


No domínio do social, existe sempre uma multiplicidade de causas que, interagindo, produzem situações complexas, implicando, por sua vez, repercussões em diferentes domínios sociais.

É nesta convergência de factores que se deverá procurar não a causa, mas o conjunto das causas que permitiram o desencadear do processo de mudança.



  • Factores Geográficos:

  • Em resultado de cataclismos, secas, inundações, pragas, etc, tem-se assistido a grandes êxodos da população rural dos países do Terceiro Mundo. Esta não se encontrando preparada para o exercício de actividades profissionais mais exigentes, acaba por constituir uma mão-de-obra desqualificada e mal paga, sendo obrigada a viver em péssimas condições higiénico-sanitárias e sociais, o que tem provocado alterações nas estruturas sociais das grandes cidades.

  • Este fenómeno é igualmente observável nos países em vias de desenvolvimento onde a agricultura é uma actividade em declínio afastando as populações para os centros urbanos em ascensão.



  • Factores Demográficos:

  • Variações nas taxas de crescimento populacional ou grândes êxodos populacionais podem originar situações de mudança social. (ex: emigração inglesa para a américa)

  • Antigamente, os emigrantes provocavam grandes alterações no modo de vida das populações autóctones. Hoje em dia, os emigrantes, por contacto com as culturas dos países para onde emigraram, trazem as sementes da mudança para os países de origem.

«Com locais de destino geograficamente muito mais próximos, as relações entre residentes e emigrados mudaram totalmente. Os contactos entre residentes e emigrados passaram a ser regulares: as visitas aos parentes emigrados ou as viagens destes constantes às terras de origem, para férias, eram comuns e são ainda hoje constantes.»


  • Factores Políticos e Sociais:

  • Factores como a luta de classes ou o conflito político, a acção das elites sociais ou o aparecimento de movimentos sociais portadores de valores e modelos culturais diferentes constituem exemplos de forças capazes de despoletar situações de mudança.

  • As mudanças decorrentes do 25 de Abril de 1974 são bem representativas da acção decisiva de uma causa de natureza política.


  • Factores Culturais:

    • A evolução das ideias: subcultura e contracultura

  • Na vida social, os indivíduos relacionam-se dinamicamente. Quer se enquadrem na ordem social vigente, quer a contestem, os indivíduos, ao relacionarem-se entre si, refazem a cada dia o tecido social.


Nesta teia de relações que entre eles se estabelece podem residir os embriões da mudança.

  • Ao colocar em contacto comunidades de indivíduos portadores de culturas diferentes, poderão ocorrer alterações no comportamento de uns e de outros que se concretizam, naturalmente, em futuros processos de mudança cultural e social.

  • Subcultura – conjunto de relações e traços culturais que, simultaneamente, afasta e aproxima certos grupos da sociedade global, não pondo em causa a cultura dominante.


Quando deparamos com uma subcultura, somos levados a identificar um grupo que, apesar de produzir a sua cultura, não se afasta, de forma significativa, da cultura dominante, antes dela acolhe e assimila inúmeros traços, ao mesmo tempo que contribui para a evolução da cultura dominante que assimila, por sua vez, alguns dos traços das subculturas.

Desta forma, as subculturas podem constituir-se como factores de mudança cultural e social.


  • Contracultura – indivíduos e grupos que, não só se afastam dos modelos de comportamento socialmente aceites, como os rejeitam e contestam radicalmente, ao mesmo tempo que apresentam uma alternativa cultural à que é dominante.


A contracultura não representará portanto a negação pura e simples da cultura tradicional, antes pressupõe a existência de uma alternativa cultural.

O fenómeno da contracultura assim considerado exige que os indivíduos conheçam e interpretem a cultura dominante, para poderem colocar-se «contra» ela e construírem uma outra, assente em valores culturais bem distintos.

«É necessário ser-se culto e possuir os meios intelectuais fornecidos pela ideologia oficial, graças à ciência e à estética, para que uma herança se possa recusar».


Será no seio da classe ou dos grupos dominantes que se produzirão os mais importantes fenómenos contraculturais. Logicamente, a contracultura exige uma ideologia que justifica a estrutura e a acção do grupo, pelo que não há contracultura sem contra-ideologia.


Naturalmente que todo o movimento contracultural ao constituir alternativas aos modelos «oficiais», tende a ser anulado, por processos vários pela cultura dominante.

Para evitar ser recuperada pela sociedade «contra» a qual se edificou e de se tornar, ela própria, um novo pilar conservador dessa sociedade, a contracultura tem de se organizar em contra-instituições fortes e fechadas à investida da cultura dominante.



    • A Religião

  • A religião, como elemento integrante da cultura dos povos, é também um factor condicionante da mudança.


    • O contacto entre culturas

  • O contacto entre realidades culturais diferentes poderá provocar práticas sociais diferentes nomeadamente através do fenómeno da assimilação.



  • Factores Tecnológicos

- As descobertas científicas, quando postas em prática, isto é, quando transformadas em novas tecnologias, tornam-se factores de mudança.


  • Factores Psicossociológicos

  • Estão relacionados com a receptividade que diferentes populações manifestam em relação ao «novo».

  • O grau de instrução, a cultura geral e a informação são factores que contribuem para uma maior abertura à mudança, enquanto que a ignorância favorece o conservadorismo.

  • As sociedades individualistas (exemplo: sociedade americana) mostram-se mais dispostas à evolução e progresso do que as sociedades mais integradas, onde o indivíduo se subordina ao grupo.



  • As necessidades sentidas

  • Enquanto as pessoas não tiverem consciência de que se encontram num estado de carência, desejando alterar a sua situação, pouco ou nada farão para a mudar.


Não será suficiente a percepção do estado de carência; é preciso que os indivíduos consigam resolver o problema existente. Esta última parte relaciona-se proximamente com a base cultural da população e a sua alfabetização.



  • A mundialização


  • O factor mundialização é frequentemente salientado como elemento facilitador do processo de mudança, pela aproximação que suscita entre indivíduos, nações ou Estados.

  • A mundialização é manifesta nomeadamente ao nível:

      • da interdependência económica e da criação dos grandes espaços supranacionais, como a UE

      • da expansão das tecnologias de informação;

      • da globalização das comunicações;

      • da globalização dos padrões de comportamento;

      • da internacionalização dos conflitos mundiais;

      • da visão ecológica global.



Agentes de Mudança


  • A influência de que os indivíduos estão revestidos e que lhes é reconhecida pela generalidade da população, quer essa influência provenha de situações institucionais ou carismáticas, pode ser decisiva na aceitação de novas situações por parte das populações em geral.


                       Elites: pessoas ou grupos que, graças ao poder que detém ou à influência que exercem, contribuem para a acção histórica da colectividade seja pelas decisões tomadas, seja pelas ideias, sentimentos ou emoções que experimentam ou simbolizam.


  • Grupos com capacidade de influenciar a vida social através, nomeadamente, da opinião pública, pela importância social ou status que ocupam na hierarquia social.

  • As elites, ao constituírem um elemento importante de mudança, assumem um papel dinâmico nas alterações sociais ao nível:

      • da exemplaridade

      • da definição de novas situações culturais

      • da tomada de decisões.


Movimentos Sociais  - organizações de alguma forma estruturadas com vista à defesa e promoção de certos objectivos e agindo, por vezes, como grupos de pressão junto dos órgãos de poder.


  • Pela massa humana que mobilizam e pela força reivindicativa de que dispõem, constituem-se como importantes elementos a ter em conta nas sociedades actuais, desempenhando um papel relevante no processo de mudança social e no dia-a-dia de uma sociedade.

  • Os movimentos sociais não surgem «do nada», antes resultam de condições sociais facilitadoras para as quais muito contribui o descontentamento dos cidadãos, relativamente à ordem social ou a alguns aspectos dessa ordem.

  • Pré-condições para o aparecimento de movimentos sociais e que favorecem a adesão aos mesmos:

    1. Descontentamento social decorrente:

      • da provação de uns grupos relativamente a outros

      • da percepção de injustiça dos grupos desfavorecidos

      • da incoerência dos status que a mesma pessoa ou grupo tem na sociedade.

    2. Existência de um bloqueio estrutural na sociedade que impede a eliminação das causas do descontentamento.

    3. Interacção dos descontentes no sentido de passarem à acção.

    4. Expectativa de que a acção concertada entre as partes tenha eficácia.

    5. Ideologia partilhada por todos os descontentes que não só justifica a sua acção como a sustenta.

  • Os movimentos sociais são altamente dinâmicos e, apesar da estruturação que apresentam, são de duração incerta.

  • Tipos de movimentos sociais:

      • Movimentos Migratórios (ex: judeus antes da constituição do estado de Israel)

      • Movimentos Expressivos – movimentos sociais de grupos que, não conseguindo alterar a realidade, alteram as suas reacções face a essa realidade (ex: seitas).

      • Movimentos Utópicos – pretendem criar uma sociedade ideal para os seus seguidores (ex: movimento hippie)

      • Movimentos Reformistas – pretendem introduzir ajustamentos aos modelos sociais vigentes, como os movimentos de defesa dos direitos das minorias (movimento gay).

      • Movimentos Revolucionários – são movimentos tendentes a mudanças profundas na sociedade (ex: P. Comunista e Berloque)

      • Movimentos de Resistência – são movimentos tendentes a travar a mudança operada na sociedade (ex: movimento anti-aborto)


A Extensão e o Ritmo da Mudança/Resistência e Aceitação

  • As alterações conhecidas por uma cultura têm sempre de enfrentar a resistência dessa mesma cultura, condicionando, assim, a profundidade, rapidez e extensão da mudança.

  • Mudanças evolutivas – mudanças visíveis a longo prazo que ocorrem naturalmente pois correspondem a certos domínios da acção social que foram evoluindo gradualmente no tempo, por adaptação progressiva a novas situações, originando novos valores e novos modelos de comportamento.

  • Mudanças Impostas – transformações bruscas e rápidas que acarretam a transformação do próprio sistema.

      • Decorre ao mesmo tempo que a evolução, ocorrendo rapidamente e sendo os seus efeitos visíveis a longo prazo.

      • Impõem-se ao sistema que é obrigado a modificar-se, aceitando-as, independentemente das resistências que a ela o sistema contrapõem.

      • Operam verdadeiras rupturas no tecido sociocultural e resultam da incapacidade de adaptação evolutiva do mesmo, em tempo útil, às pressões de mudança a que é submetido.

  • Por norma, as mudanças sociais evolutivas, lentas e progressivas, são aceites mais facilmente, por não introduzirem incertezas, angústias ou anomia; pelo contrário, as mudanças sociais impostas, por serem bruscas, causam uma forte resistência.

  • Contrariamente ao que parece ser norma, mudanças há que acontecem a um ritmo rápido e sem que encontrem fortes resistências. - Tudo depende do tipo de mudança e das consequências que ela pode acarretar.

  • Se a mudança vier a responder a algumas das carências sentidas pela colectividade, ela far-se-à rapidamente e sem grandes resistências. Pelo contrário, mudanças que questionam a própria ordem e estrutura social deparam com fortes obstáculos.

  • A aceitação da mudança dependerá do facto de pôr em perigo os direitos adquiridos. Os custos sociais são, pois, factor condicionante da aceitação da mudança.




Consequências da Mudança


  1. Consequências Culturais: a aculturação


Aculturação – processo de mutação cultural, concretizado pela aquisição de elementos materiais e espirituais de uma cultura por outra, resultante do contacto entre os povos.

    • Resulta de processos de intercâmbio comercial, científico, técnico e artístico.

    • O processo de aculturação nem sempre se faz de forma pacífica, pois que do contacto entre os povos nem sempre resultou o estabelecimento de relações amigáveis.

    • Aculturação por assimilação – verifica-se entre os povos que estão em contacto permanente, sem que qualquer cultura exerça sobre a outra um processo de dominação.

      • Cada cultura apreende livremente os traços materiais e espirituais da outra.

      • Factores determinantes: actividade comercial e desenvolvimento dos meios de comunicação e informação.

    • Aculturação por destruição – a aculturação não é um processo livremente aceite pelas duas culturas, antes funciona de forma quase unilateral: a cultura do povo conquistador impõe-se à cultura do povo dominado, que se vê, assim, despojado dos elementos culturais que a sua vida social forjou.

      • Resulta do encontro de culturas em consequência de uma conquista militar ou de dominação política.

      • Mesmo neste processo de aculturação acontece mistura cultural, isto é, a própria cultura dominante irá assimilar, ainda que mais lentamente, elementos da cultura do povo dominado.


  1. Consequências económico-sociais

    • Novas tecnologias são sempre factores de desestabilização. Geralmente associadas à criação de mão-de-obra excedentária, as novas tecnologias são, usualmente, mal recebidas, sobretudo pela população trabalhadora. - A adaptação à nova situação, até se atingir o novo ponto de equilíbrio, é sempre dolorosa.

    • A desadaptação aos modelos vigentes pode, inclusive, levar os indivíduos ao suicídio, por não encontrarem neles modelos de referência.

    • Benefícios sociais da modernização:

      • aumentos de produtividade e de produção

      • possibilidade de libertar o trabalhador de tarefas rotineiras e enfadonhas que qualquer máquina pode fazer

      • aumento dos tempos livres

      • realização profissional e pessoal do indivíduo

      • aparecimento de novos papéis e estatutos sociais

      • mobilidade social

      • aumentos de rendimentos, resultantes do acréscimo da produção

      • participação dos indivíduos em actividades mais ligadas aos seus interesses

    • O sucesso da mudança está largamente dependente das estratégias sociais utilizadas para a sua aceitação.


  1. Outras Consequências Sociais

As mudanças ocorridas nas sociedades actuais, dado o acesso democratizado aos mass media, tendem a produzir comportamentos padronizados veiculados pelos modelos transmitidos a que todos têm acesso.

 Há, todavia, quem argumente que os mass media, pela diversidade que apresentam, permitem, pelo contrário, a desmassificação cultural.


Os mass media contribuem para a diversificação de modelos culturais ou para a massificação das sociedades?



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publicado por Ana Silva Martins às 18:21
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De Risa Makoto a 21 de Novembro de 2011 às 18:33
Obg :* Salvaram minha nota em sociologia !! (x


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