A pedido de várias famílias, os apontamentos e auxiliares de estudo de Biologia foram transferidos para um blog próprio: http://biohelp.blogs.sapo.pt . Isto vem facilitar a consulta de posts relacionados com a Biologia, a Bioquímica e a Genética, bem como libertar este blog para a consulta de apontamentos de outras disciplinas..
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Em mês de regresso às aulas, o «há 2 sem 3» deseja a todos os estudantes um óptimo ano lectivo.
Para informações detalhadas sobre o programa de biologia, conteúdos mais importantes, inter-relação entre os temas e obras de referência consultar o segunte endereço do Ministério da Educação:
http://www.dgidc.min-edu.pt/programs/prog_hom/biologia_12_cch_homol.pdf
Foi com a morte da velhota, a mãe de Nell, que as pessoas da vila, e em especial o médico, tomaram conhecimento da existência desta rapariga, que cresceu e viveu sempre isolada, sem qualquer contacto com outra pessoa que não a sua mãe. Desta forma, a Nell não foi socializada a partir da infância, como acontece com as crianças que vivem em sociedade, uma vez que foi levada a adoptar um modo de vida afastada da mesma e dos seus benefícios e inconvenientes, sem aquilo que todos aceitamos como fundamental – água canalizada, luz eléctrica, etc. -, sem os agentes de socialização que a levassem a adoptar os comportamentos padronizados reconhecidos e aceites pela sociedade. A revelação do modo de vida de Nell e sua mãe provocaram assim a curiosidade das pessoas, levando-as a quererem estudá-la como se se tratasse de uma simples cobaia de laboratório, ou socializá-la, mesmo que à força.
Uma vez que a criança ao nascer é um ser não cultural, pois a cultura não depende da herança biológica, a Nell era, aquando da morte da mãe, um ser praticamente culturalmente em branco. Pouco tinha apreendido da cultura ocidental – somente aquilo que a sua mãe (único agente de socialização) lhe tinha transmitido. O facto de o comportamento de Nell não ser instintivo, mas antes o resultado daquilo que a mãe lhe tinha ensinado – como o costume de ficar parada nas pedras em cima do rio a fazer movimentos «pouco normais» -, vem comprovar que o comportamento individual não é instintivo, mas sim o produto da socialização a que somos sujeitos e através da qual aprendemos os comportamentos padronizados associados aos papéis sociais que poderemos eventualmente desempenhar, e que fazem com que os nossos comportamentos sejam sempre, ainda que de forma inconsciente, comportamentos sociais.
Sendo a linguagem um dos constituintes da cultura, e um dos principais meios da sua transmissão, o facto da rapariga ter aprendido a linguagem distorcida da mãe, e de ter comportamentos que não eram considerados como próprios pelas outras pessoas, fazia com que ela fosse vista pelas mesmas como uma selvagem, uma verdadeira «estranha», pois não a identificam com os valores, normas e comportamentos do grupo em que estes estavam inseridos. No entanto, havia também aqueles que, como o médico, a tentaram entender e ajudá-la, mesmo que essa ajuda não implicasse a sua socialização à luz da cultura do seu grupo. A linguagem constituia também um obstáculo à compreensão do seu modo de vida pelos outros, o que releva a importância da mesma como factor de união e identificação cultural, de mecanismo de aprendizagem da cultura e de ponto de contacto entre as diversas culturas resultantes dos diferentes processos de socialização.
Por fim, embora à luz de uma socialização dita “normal” Nell seja uma selvagem, ela sofreu e continuará a sofrer um processo de socialização particular, na medida em que a sua mãe lhe transmitiu a cultura do seu grupo, ainda que não na totalidade, ensinando-lhe os seus valores, as normas decorrentes dos mesmos e os comportamentos aceites por si. A relação entre esta rapariga, o médico e a investigadora, na parte final do filme, pode assim ser abordada sob dois pontos de vista: em primeiro lugar, como exemplo de um processo de relação associativo, mais propriamente de cooperação, havendo, no entanto, a assimilação por ambas as partes de alguns aspectos culturais particulares; em segundo, como um exemplo de como deve ser o contacto entre culturas diferentes, resultantes de processos de socialização divergentes - partilha de experiências e conhecimentos pacífica, sem que esta dê lugar a uma assimilação de uma das culturas por parte de outra.
A «poluição das palavras» é cada vez mais preocupante devido ao “aumento das suas emissões” pelos responsáveis políticos de todo o mundo, nomeadamente dos países desenvolvidos que são os únicos realmente capazes de pôr fim à grande maioria dos entraves ao desenvolvimento e dos problemas ambientais.
Muito embora tenham sido realizadas inúmeras conferências mundiais com o objectivo de alertar e encontrar estratégias para o combate a estes problemas e assinados muitos protocolos em que as nações se comprometem a contribuir para a sua resolução, a verdade é que estes instrumentos teóricos globais são muitas vezes ignorados quando se trata de passar à acção. Outras vezes, os tratados e protocolos resultantes destas cimeiras contemplam cláusulas previamente negociadas que permitem contornar os possíveis “incómodos” para os interesses instalados nos países de maior poder decisório (nomeadamente os económicos) ou, simplesmente, não contemplam os mesmos («o presidente norte-americano nada disse sobre as metas a estabelecer para reduzir as emissões do seu próprio país, o mais poluente do planeta.»). Há ainda outro método, muito em voga, para contornar obstáculos incómodos, que consiste em negociar os documentos resultantes das cimeiras e depois, simplesmente, não os ratificar.
Como forma de se redimirem, há aqueles que promovem acções para manobrar a opinião pública ou minorar os efeitos da inconsistência das suas políticas («Bill Clinton oferece175 milhões de contos para ajudar as nações em em desenvolvimento a reduzir as suas emissões»).
Perante este cenário, as questões que são levantadas parecem perfeitamente legítimas. A resposta a estas é que se afigura mais difícil: parece que estes resultados inconclusivos, cada vez mais frequentes na nossa cena internacional, resultam quer da irresponsabilidade dos países, que teimam em não tomar medidas concretas em resultado de uma má avaliação do impacto que os problemas desta natureza podem ter sobre todo o planeta, e não só a uma escala nacional ou regional, quer da incompetência e incapacidade técnica dos mesmos, na medida em que os problemas têm que ser resolvidos a uma escala global que pressupõe a implicação de todos os países, principalmente dos que possuem os meios técnicos e financeiros para essa mesma resolução, quer ainda, e principalmente, da falta de vontade e determinação em enfrentar os interesses instalados de uma minoria para a resolução de problemas que afectam a maioria e que, a longo prazo (mas cada vez mais curto), podem afectar toda a população mundial.
O Alqueva é, realmente, o empreendimento, a realizar em Portugal, que mais polémica tem gerado.
Por um lado, aqueles que defendem a sua construção invocam os benefícios económicos que esta implica, como o aumento das zonas irrigadas e, portanto, das zonas cultiváveis, o aumento do turismo e essencialmente o aumento da qualidade de vida.
Por outro lado, os que se opõem à sua construção referem que esta provocará, devido à desmatação e desarborização necessárias para que a inundação das áreas circundantes não contribua para a contaminação das águas. Desta forma, provocará uma redução da biodiversidade desta zona e a extinção de algumas espécies. Da mesma forma, a deslocação de populações para fora das áreas de inundação provocou uma grande resistência das mesmas, que não queriam abandonar as suas casas, mesmo que fossem realojadas, nem deixar os terrenos onde, por exemplo, se situava o cemitério onde os seus antepassados tinham sido enterrados. Também ao nível arqueológico se constituíram focos de resistência, de forma a que as gravuras de Foz Coa não ficassem submersas.
A irregular distribuição dos recursos hidricos no nosso país está relacionada com a também irregular distribuição das zonas de maior precipitação que constituem zonas de relevo montanhoso. O escoamento da precipitação contribui para o aumento dos caudais dos rios e dos lençóis subterâneos, sendo portanto natural que as zonas áridas e com pouca vegetação, que têm em consequência disso reduzidos níveis de precipitação, tenham uma disponibilidade de recursos hídricos muito inferior às zonas montanhosas. Sendo o território do Norte e Centro de Portugal tendencialmente montanhoso, e o do Sul tendencialmente plano e com vegetação mais reduzida, verifica-se uma assimetria Norte-Sul na distribuição dos recursos hídricos.
O Plano Hidrológico Espanhol tem bastante influência na variação dos caudais dos rios luso-espanhóis uma vez que ao prever a construção de barragens e transvases nesses rios pode provocar uma diminuição drástica dos caudais dos mesmos, afectando a disponibilidade de água doce em Portugal e tendo inúmeras implicações ambientais e económicas. Daí que o Plano Hidrológico Espanhol devesse ter em conta o português e estar coordenado com este, de forma a garantir uma equidade no acesso a este recurso fundamental à sobrevivência das populações e ao desenvolvimento da actividade económica.
O Alqueva assume uma importância enorme no desenvolvimento do Alentejo na medida em que constituiu a única fonte de água numa distância considerável. Através da barragem do Alqueva, toda uma zona massacrada pela seca nos últimos anos poderá finalmente percorrer o caminho do desenvolvimento, pois as disponibilidades de água aumentam, o que se traduz em benefícios para as populações e para a agricultura (maior irrigação dos solos e melhores sistemas de rega que permitem o desenvolvimento de novos tipos de agricultura).
A construção de grandes barragens apresenta inúmeras vantagens, entre as quais o aumento da disponibilidade dos recursos hídricos através de um aumento do armazenamento de água e a possibilidade da sua utilização na produção de energia. Porém, apresenta também alguns inconvenientes, nomeadamente para a biodiversidade, na medida em que pode contribuir para a redução do número de efectivos de uma espécie, ou mesmo levar à sua extinção, quer porque as barragens constituem obstáculos ás migrações e livre circulação dos animais, quer porque, contribuindo para uma redução dos caudais dos rios, provocam uma descida do nível das águas.
A polémica relacionada com a co-incineração de resíduos industriais em Portugal, e no resto da Europa de forma similar, alcançou o seu expoente máximo com o «caso de Souselas». A razão genérica que esteve na base quer da decisão governamental, quer do movimento de protesto dos habitantes de uma das regiões afectadas, era a mesma: o combate a um problema do foro ambiental. Com efeito, a decisão do Ministério do Ambiente de avançar com a co-incineração fundamentava-se na necessidade urgente de dar um tratamento aos Resíduos Industriais Perigosos produzidos em Portugal que, tal como estavam, representavam uma enorme ameaça ambiental; o movimento de protesto fundamentava-se no facto de a solução escolhida não ser ambientalmente correcta, transformando a própria solução em ameaça.
Após a decisão do governo de avançar com a co-incineração, em 1998, instalou-se a polémica. Para levar a sua estratégia avante o governo sugeriu a criação de um Plano Estratégico de Gestão de Resíduos Industriais (PESGRI), a par da requalificação ambiental das localidades afectadas. Estas medidas serviriam para suportar a base argumentativa governamental ao longo de todo o processo: a urgência do tratamento dos Resíduos Industriais Perigosos.
De entre os argumentos que serviam de base ao movimento de protesto destacavam-se a «convivência» negativa que a população vinha mantendo com a cimenteira desde a sua entrada em funcionamento em 1974 (os estragos provocados nas casas pelas «explosões» da cimenteira, os frequentes «acidentes» na laboração da cimenteira, a constante poluição na via pública, a destruição da agricultura de subsistência, os problemas de saúde da população, etc.) e os perigos que a co-incineração poderia acarretar para a saúde pública, tendo havido, inclusivé, a apresentação de dois documentos justificativos do protesto. Aos argumentos da população de Souselas, juntavam-se outros baseados, sobretudo, na localização da co-incineradora. De entre as razões que eram apontadas para o não avançar da proposta governamental, destacavam-se: o facto de a co-incineradora ficar situada junto a um grande aglomerado populacional - Coimbra; a «desvalorização» a que estava sujeita a região centro, uma vez que esta, nunca representando custos políticos elevados para o partido no poder, à semelhança de outras situações anteriores era alvo de discriminação em termos de desenvolvimento económico e social, cabendo-lhe algumas das iniciativas mais impopulares, de que a co-incineração era exemplo; o facto de Coimbra ter um fraco tecido industrial, o que desaconselhava a sua escolha para o tratamento dos resíduos produzidos, sobretudo, em outras localidades. Para além destes argumentos que se prendiam, sobretudo, com a localização, verificava-se que as «palavras de ordem» eram bastante diversas, não havendo um consenso quanto às soluções a propor. Um outro argumento que foi ganhando peso ao longo do processo prendia-se com o facto de a co-incineração representar o tratamento de uma ínfima parte dos resíduos produzidos em Portugal - e apenas uma parte dos Resíduos Industriais Perigosos - reduzindo, desta forma, a escala do problema.
O movimento de protesto contra a co-incineração tem sido caracterizado por períodos diferenciados de contestação. Até ao presente momento, podemos identificar três desses períodos, de onde ressaltam as seguintes características fundamentais: no primeiro tempo, a insuficiência da reivindicação popular junto dos decisores governamentais traduziu-se num apelo ao saber de peritos, por forma a fundamentar a decisão; no segundo tempo, a posição tomada pela CCI, totalmente favorável ao avanço do processo de co-incineração, fez com que a contestação se fizesse, sobretudo, por via da controvérsia científica instalada; no terceiro tempo, o alargamento das análises científicas às questões relativas à saúde pública permitiram um reforço da associação que já vinha acontecendo entre parte da comunidade científica e o movimento de protesto, havendo uma aproximação inequívoca às principais preocupações das populações locais, muito embora o parecer do Grupo de Trabalho Médico (GTM) tenha garantido a inocuidade da co-incineração para a saúde das populações afectadas e referido que os riscos decorrentes da actividade de uma co-incineradora eram «socialmente aceitáveis».
Apesar de, desde o início, a contestação promovida ter sido acusada de localista, com o desenrolar dos acontecimentos, foram sendo estabelecidas pontes de diálogo e foram sendo suscitadas questões até aí inexistentes no nosso país. O movimento de protesto assumiu ainda uma posição de vanguarda ao posicionar-se contra a chamada «cultura tóxica», uma das questões actualmente mais em voga.
Toda esta polémica desviou as atenções da questão fundamental: embora houvesse contestação, o urgente era apresentar medidas e solucionar problemas, independentemente da fórmula ser ou não a mais correcta. Neste sentido, foi avançado que iriam apenas ser sujeitos a co-incineração os resíduos que não tivessem qualquer outra alternativa de tratamento (excluindo os óleos usados e os solventes orgânicos), o que reduziu substancialmente a proposta apresentada. Ficou ainda por decidir onde iria ser colocada a estação de tratamento dos resíduos que iriam ser sujeitos a queima e a definição concreta de quais seriam esses resíduos. Do lado do movimento de protesto continuam ainda a ser efectuados esforços no sentido de serem encontradas alternativas para os restantes resíduos.
Estando o processo ainda em curso, e tendo sido já desenvolvidas inúmeras articulações entre as diferentes iniciativas locais, tendo igualmente sido desenvolvidas algumas alianças de âmbito nacional, resta o envolvimento da sociedade civil e do Estado para que as mesmas reivindicações e iniciativas locais não se baseiem num princípio de tipo NIABY (Not in Anyboby’s BackYard), mas sim em verdadeiras preocupações ambientais e sociais que não tenham como principal objectivo o adiamento da resolução dos problemas por tempo indeterminado.